Barulhos do mundo, sussurros da alma
- Flavio Ferrari
- 22 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
“Que você viva tempos interessantes.”
Reza a lenda que esta antiga maldição chinesa era destinada aos piores desafetos.
Temos muito o que aprender com a milenar sabedoria oriental, esse pedaço do mundo onde os registros dos pensamentos da humanidade não foram destruídos pelas motivações religiosas e políticas da idade das trevas do ocidente.

Em tempos interessantes, acelerados, complexos, inundados por novidades e informações, o mundo consome toda a nossa atenção.
Estudamos muito, trabalhamos demais e vivemos o medo constante de deixar passar alguma informação importante ou perder um evento relevante – o que ganhou o apelido de FOMO, “fear of missing out”.
Esse ruído incessante, alto e estridente do mundo lá fora captura nossa atenção e nos impede de escutar os sussurros da alma.
Mas que sussurros seriam esses?
Enquanto sua mente consciente está decidida a acompanhar tudo que se passa para compreender e interagir com o mundo, seu inconsciente processa o impacto desse mundo sobre você, e registra pequenos detalhes que o mecanismo simplificador da consciência cotidiana ignora.
O inconsciente envia sinais sutis à mente consciente durante o dia e mensagens cifradas através dos sonhos.
Ele fala de seus desejos, de suas insatisfações, das carências, das emoções reprimidas, dos medos e angústias, dos pequenos prazeres e do sentimento de gratidão. Coisas que não parecem requerer atenção imediata para sobreviver nessa selva caótica da realidade mutante.
Ignorados, esses sinais vão ganhando relevância com o tempo e acabam alterando significativamente seu estado psíquico.
O inconsciente precisa gritar mais alto do que o mundo lá fora para que você escute.
Depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade, transtorno explosivo, sentimentos intensos de desamor e solidão: esses são os gritos.
O caminho para o “burnout”, o colapso pessoal, está sendo trilhado.
É você clamando por sua atenção.
Superar esse tipo de situação de crise não costuma ser fácil, mas evitar que aconteça é relativamente simples.
Basta dedicar um momento do dia para se escutar, para se perguntar como foi o dia, o que sentiu, o que te deixou feliz ou entristeceu. Se os nervos estiverem à flor da pele, perguntar-se a razão. Se a sensação for de contentamento, aproveita-la e questionar-se sobre o que poderá fazer para que aconteça com mais frequência. Identificar as carências e pensar no que pode fazer para supri-las. Aceitar e enfrentar os medos e conversar sobre eles.
Não precisa se fazer todas essas perguntas ao mesmo tempo. Faça uma delas por dia. Já será suficiente para que você sinta que está tendo a atenção de que necessita.
Pode parecer estranho, mas a sua atenção é muito importante para você.
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