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Espiritualidade, Religiosidade e Fé

Imagino que cada um tenha sua definição do que é espiritualidade, mas quase sempre que converso com alguém sobre o assunto, a ideia de espiritualidade surge associada à religião e à fé.

Em teoria, são coisas bem diferentes.

Espiritualidade, conceitualmente, é a busca pessoal do significado da vida, da razão da existência. É um exercício de transcendência, que nos leva além do mundo material e de nós mesmos, ao encontro da ideia de uma força criadora do Universo e de um propósito maior do que simplesmente sobreviver, enriquecer ou mergulhar em prazeres sensoriais.

De algum modo, ela faz parte de nossa natureza, e nos impulsiona a preencher o vazio existencial. É uma busca individual, uma jornada pessoal enriquecedora, que promove o autoconhecimento e a conexão com o tudo o que nos cerca.

As religiões surgem dessa necessidade, e oferecem suporte estrutural para essa busca, através de processos, rituais e referências simbólicas, embasadas por um conjunto de crenças.

Um paradoxo interessante no encontro da espiritualidade com as religiões é que religiões são institucionais e coletivas, e oferecem as mesmas respostas para todos os fiéis, enquanto a espiritualidade é uma busca individual.

Enquanto a espiritualidade poderia ser medida pela relevância e intensidade da busca individual, a religiosidade o é pelo nível de envolvimento com a religião e a aceitação de seus dogmas coletivos. Espiritualidade é a exploração de caminhos. Religiosidade é a aceitação de um caminho que nos é oferecido, num ato de fé.

Fé é a crença inabalável numa verdade que está além de questionamentos. Ela nos oferece a paz e a serenidade da certeza. É a busca que se encerra, o final da angustiante procura pelo significado.

Eventualmente, essas três ideias se encontram, sob a égide de uma religião, para algumas pessoas. Outras não encontram significado nas práticas coletivas ou conforto nas respostas definitivas e seguem em seu caminho solitário. Muitas promovem um sincretismo religioso, capturando o que lhes serve de cada religião disponível em sua época, e explorando as novas que vão surgindo na medida em que as crenças, rituais e referências simbólicas de outras se tornam anacrônicas. E, é claro, há quem não se preocupe com isso, e simplesmente toque o barco, sem maiores questionamentos sobre o significado da vida.

No meio de tudo isso surge a ideia da sacralidade.

Numa religião, Sagrado refere-se a algo que merece ser respeitado e venerado pela associação com a divindade. Pode ser um ritual, um objeto, uma imagem, um animal, um vegetal, um compromisso, uma emoção, uma atitude ou qualquer avatar de uma divindade.

Despido do arcabouço religioso, o Sagrado, para a espiritualidade, é o que nos conecta com o propósito da existência e merece atenção plena. A definição do que é Sagrado é pessoal. Pode ser o almoço com a família, o amor pelas crianças, a preservação da natureza, pequenos rituais pessoais ou qualquer outra coisa que tenha um significado profundo. Se contrapõe àquilo que não é verdadeiramente importante, que é “mundano” (as coisas superficiais do mundo, que praticamos automaticamente, e que não preenchem o vazio existencial). Há quem chame o que é mundano de profano, em contraposição ao sagrado, porque distrai nossa atenção e nos desvia do caminho da espiritualidade.

A espiritualidade, essa busca transcendente, seria nossa responsabilidade existencial?

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