Prazer, realidade e estabilidade
- Flavio Ferrari
- 4 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Compartilhando um pensamento psicanalítico...
Nas sociedades ocidentais, acreditamos que o sofrimento é o caminho para a elevação espiritual e associamos o prazer ao pecado que nos conduz ao inferno.
Essa crença é cultural e, ouso dizer, senão inspirada, suportada pelos dogmas das religiões prevalecentes nos últimos milênios nessas geografias.
Sigmund Freud (1856-1939) postulou o “princípio do prazer” segundo o qual nossas ações tenderiam a ser naturalmente pautadas pela busca de gratificação imediata.

Comer, copular e dormir são impulsos primitivos, registrados em nosso código genético para garantir a preservação da espécie e a perpetuação do próprio código (DNA).
Mas Freud também introduziu o conceito do “princípio da realidade”, ditado pelo instinto de autopreservação que recomenda o adiamento dessa satisfação e o abandono de alternativas “perigosas” para obtê-la. É o preço que pagamos por vivermos em bandos.
Fechner (1801-1867), menos conhecido pelo publico leigo, sugeriu o “princípio da estabilidade”, segundo o qual nossa mente procuraria caminhos para reduzir a excitação ou pelo menos impedir que ela aumente, considerando que um alto nível de excitação é percebido como desagradável por nosso aparelho mental.
A visão de Fechner, complementada pelos mecanismos descritos por Freud, explica nossa resistência a mudanças.
"Privamo-nos para mantermos a nossa integridade, poupamos a nossa saúde, a nossa capacidade de gozar a vida, as nossas emoções, guardamo-nos para alguma coisa sem sequer sabermos o que essa coisa é. E este hábito de reprimirmos constantemente as nossas pulsões naturais é que faz de nós seres tão refinados." - Freud
Mesmo neste momento em que começamos, coletivamente, a questionar os velhos paradigmas, experimentar novos caminhos e aceitar vivências prazerosas como vias de desenvolvimento pessoal, esse novo pensamento encontra firme resistência.
Cientificamente, a neurociência já comprovou que novas experiências, particularmente as mais sensorialmente intensas, geram novos caminhos sinápticos, que alteram e ampliam nossa percepção da realidade. Sofrimento ou prazer, tristeza ou alegria, desde que vividos com presença e intensidade, são transformadores.
Mas tudo que é novo excita e gera algum desconforto mental, que precisa ser superado para que possamos colher os benefícios da renovação.
Uma boa alternativa é partir em busca de vivências agradáveis como forma de introduzir o novo, facilitando a superação.
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