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Prazer ou sofrimento: o que nos transforma?

A ideia de que o sofrimento é o caminho para elevação espiritual, e que oferece uma oportunidade para transformações positivas, faz parte do inconsciente coletivo ocidental há séculos.

Por oposição, o prazer é demonizado. Ou, no mínimo, desqualificado.

Claro que buscamos o prazer, mas muitas vezes com um certo sentimento de culpa, e quase certamente sem acreditar que algo de espiritual possa ser encontrado por esse caminho.

Podemos discutir o termo “elevação espiritual” em outro momento. Vamos substitui-lo, nessa conversa, por “transformação positiva e duradoura”. E vamos considerar como positiva, a transformação que faz de você uma pessoa melhor, de acordo com sua própria avaliação.

Imagem: Engin Akyurt por Pixabay

Emoções intensas são transformadoras. Não há qualquer dúvida sobre isso. Não precisamos de confirmação científica, filosófica ou religiosa para esse fenômeno. Todos experimentamos isso em algum momento da vida, mais de uma vez.

Sofrimento e prazer têm esse mesmo efeito. Mas nossos mecanismos internos de sobrevivência nos fazem lembrar, com maior intensidade, do que nos fez sofrer, para que possamos evitar que isso aconteça novamente.

Com isso, a transformação decorrente do sofrimento é associada a ele. Lembramos com maior facilidade que aquele sofrimento nos fez mudar.

As lembranças prazerosas, com raras exceções, evanescem, perdem sua intensidade com o tempo, talvez porque sejam menos úteis para nossa sobrevivência. As transformações que elas trouxeram são menos traumáticas, porque aconteceram sem dor. Com frequência, nem nos damos conta de que o momento de prazer nos transformou.

Mas podem acreditar que o prazer também transforma. E costuma transformar de forma mais positiva do que o sofrimento.

Como é mais difícil de encontrar evidências disso em nosso passado, observe as pessoas a sua volta.

Quais são as pessoas que lhe parecem mais “positivas”? As que sofreram mais ou as que tiveram mais prazer na vida?

Depois, observe o que acontece com você após os episódios de prazer e de sofrimento. Em que situações você se sente uma pessoa melhor?

Prazeres intensos são raros (e, felizmente, sofrimentos intensos também) para a maioria das pessoas. E, como comentei antes, costumam vir acompanhados de algum sentimento de culpa (é pecado, é imoral, é imerecido).

Vou sugerir um experimento.

Escolha algo para fazer que lhe dê muito prazer. Mas muito prazer mesmo. Como o objetivo é científico, eu absolvo, a priori, de qualquer culpa (salvo se for ilegal, porque não tenho poder para tanto). E fique atento para suas sensações e pensamentos nos momentos e dias seguintes.

"O caminho da evolução pelo prazer é agradável e sustentável."

Se não for possível, ou porque você não sabe o que lhe daria um prazer intenso (e, nesse caso, vale a pena gastar algum tempo para explorar essa ideia mais tarde, porque a vida é curta e você merece), ou porque não conseguiria contornar a questão da culpa, presenteie-se com muitos pequenos prazeres por alguns dias seguidos e observe como evoluem seus sentimentos e sua relação com você.

Não há como evitar algumas situações de sofrimento, e elas serão transformadoras. Mas você não precisa buscar o sofrimento para evoluir. Há quem faça isso, as vezes por impulsos patológicos e outras por motivações religiosas. Mas se você não se enquadra em nenhum desses casos, há outro caminho para sua evolução.

O caminho da transformação pelo prazer pode ser estranho de início, porque não foi isso que aprendemos desde pequenos.

Mas uma vez que começamos a trilhar esse caminho, e descobrimos que funciona, não nos desviamos mais dele.

O caminho do prazer é agradável e, por isso mesmo, sustentável.

E um de seus efeitos colaterais é que costuma alimentar a generosidade.

Essa é uma das lições que precisamos, coletivamente, aprender para o descolapso.

2 comentarios


sergio prazeres
sergio prazeres
29 may 2020

Boa Flavio!!!

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amfranca
amfranca
26 may 2020

Concordo plenamente com vc, pena que a culpa cristã e uma boa dose masoquismo ainda se faça presente

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© 2020 by Flávio Ferrari

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