Liberdade de ser e pensar
- Flavio Ferrari
- 5 de abr. de 2020
- 2 min de leitura
Nascemos totalmente livres, mas igualmente dependentes.
Assim são os bebês humanos.
Logo que desenvolvemos nossa percepção de realidade, aprendemos a trocar pedacinhos de nossa liberdade por cuidado, comida e afeto.
Assim funciona o mundo dos humanos.
Na medida em que vamos crescendo e a vida se torna mais complexa, o mundo nos exige pagamentos maiores e, quando nos damos conta, resta-nos pouca liberdade. Em alguns casos, quase nenhuma.

Algumas pessoas se rebelam e decidem não pagar o mundo com sua liberdade ou, pelo menos, não com toda a sua liberdade. Consideram que é seu bem mais valioso e que, por mais que precisem de cuidado, comida e afeto para viver, a vida sem liberdade não faria sentido.
Aqueles que pagaram pelo que tem com sua liberdade não costumam ser generosos com os rebeldes. Afinal, eles se sacrificaram, e não seria justo que alguém que não tenha se sacrificado da mesma forma, abrindo mão de sua liberdade, receba cuidado, comida e afeto na mesma proporção.
Mais do que isso, os rebeldes nos lembram daquilo que perdemos, do preço que pagamos para sermos cuidados, alimentados e amados.
Por isso são apedrejados.
Rebelde, por definição, é a pessoa que se rebela, que não se submete à ordem e à disciplina.
Quando vivemos em sociedade, temos alguns contratos sociais formais, como as leis, e informais, como os costumes. Viver em sociedade significa, necessariamente, estar disposto a renunciar a algumas liberdades individuais e aceitar regras de convivência. É uma sábia escolha, que muito contribuiu para a preservação e evolução de nossa espécie.
Leis e costumes se modificam com o tempo, acompanhando nosso desenvolvimento coletivo.
O impulso para essas modificações vem da rebeldia das mentes livres para questionar as regras.
Não é um processo fácil. Mudar, ainda que para o que consideramos que seja melhor, requer ousadia e coragem para enfrentar o desconhecido.
"Oportunidade de conhecer a estrutura autoritária que controla seus pensamentos."
Liberdade de pensamento, ousadia e coragem são aspectos individuais, que costumamos trocar por cuidado, comida e afeto, ao longo de nossa jornada. Precisam ser resgatados.
Vou deixar aqui uma provocação: o que você gostaria de fazer se não houvesse regras e punições?
Não responda de imediato. Faça uma longa lista e, quando achar que terminou, dê uma pausa e volte a ela mais tarde, desafiando sua criatividade. Só pare quando tiver incluído nesta lista algumas coisas que você tem dificuldade de aceitar como suas. Quando estiver experimentando um sentimento de vergonha e culpa.
A lista é só para você. Pode destruí-la depois do exercício.
Fazer essa lista lhe dará duas oportunidades interessantes. A primeira é a de experimentar a dificuldade de pensar com liberdade. A segunda é se questionar sobre a origem do sentimento de vergonha e culpa, do que é “certo” ou “errado”.
A ideia não é a de que você saia fazendo tudo o que tem vontade, mas estimular a consciência das trocas que vem fazendo para receber cuidado, comida e afeto e, com um pouco de sorte, conhecer a estrutura autoritária que controla seus pensamentos conscientes.
@amfranca: Quando é uma opção consciente, é menos mal.
Essa batalha interminável... É brigar por ela ou se vender o meio termo rende aquele gosto meio amargo, aquela azia do mal digerido...
Quem sabe a solução esteja em trazer esse espírito para onde quer que estejamos, Daniela. Talvez possamos, gradativamente, transformar a comunidade na qual vivemos.
Sair da caixa é extremamente difícil. Houve uma época em que eu queria largar esse tipo de vida q conhecemos, esse sistema. Queria morar numa aldeia, num grupo ecológico. Li sobre vários que existem por aí. Ainda é uma ideia q me ronda, mas não consegui convencer pessoas q amo a ir comigo. Ainda não me sinto preparada (nem sei se um dia estarei) para deixá-los e seguir em frente, seguir o que acredito. Além disso tb tenho muitas dúvidas e questões do quanto essas comunidades são eficientes. Estaria trocando 6 por meia dúzia? Um dilema q carrego é que gostaria de saber se mais alguém compartilha?