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Negócios em descolapso

Para muitos acadêmicos, a pandemia é o prenúncio do inevitável colapso global.

Há anos, o mundo dos pensadores se divide entre os colapsologistas, os negacionistas e um terceiro grupo, sem nome "oficial", que poderíamos chamar de pragmáticos. Colapsologistas acreditam que o planeta tenha cruzado a linha do potencial de regeneração, e que devemos nos preparar para o pior. Negacionistas afirmam que a ciência sempre encontrará soluções para eventuais problemas, quando surgirem. Pragmáticos antecipam as possibilidades de colapsos e buscam soluções para evitá-los.

Entre os colapsologistas, cresce um subgrupo que acredita que o "pior" pode não ser tão ruim, desde que nos preparemos com antecedência. E que, nesse caso, talvez descubramos que é possível viver melhor com menor consumo de recursos do planeta.

Essa ideia, que na França recebeu o nome de "Happy Collapse", foi a inspiração para a criação do Descolapso.

No mês passado (abril/20), 170 acadêmicos das principais universidades holandesas publicaram um manifesto que propõe, em linhas gerais, a redução da atividade econômica como caminho para melhorar a qualidade de vida da humanidade, tornando a sociedade mais justa e sustentável.

A ideia, expressa no manifesto, é a de que o modelo de desenvolvimento econômico vigente, globalmente, nos últimos 30 anos exige uma circulação crescente de bens e pessoas, apesar dos inúmeras problemas ecológicos e crescentes desigualdades que gera.

Os acadêmicos fazem cinco propostas que podem, segundo eles, ser implementadas imediatamente e sustentadas mesmo após a crise.

1) um afastamento do desenvolvimento focado no crescimento agregado do PIB para diferenciar entre setores que podem crescer e precisar de investimentos (como setores públicos críticos, e energia limpa, educação, saúde) e setores que precisam degradar radicalmente devido a insustentabilidade fundamental ou seu papel na condução do consumo contínuo e excessivo (como petróleo, gás, mineração, publicidade). 2) uma estrutura econômica focada na redistribuição, que estabelece uma renda básica universal enraizada em um sistema de política social também universal, uma forte tributação progressiva da renda, lucros e riqueza, redução de horas de trabalho e compartilhamento de empregos, e que reconheça o trabalho de assistência e serviços públicos essenciais, como saúde e educação, por seu valor intrínseco; 3) transformação agrícola em direção à agricultura regenerativa baseada na biodiversidade, conservação, produção sustentável e principalmente, local e vegetariana, bem como condições de emprego agrícola e salários; 4) redução de consumo e viagens, com uma mudança drástica do luxo e desperdício para o que é básico, necessário, sustentável ​​e satisfatório; 5) cancelamento de dívidas, especialmente para trabalhadores e pequenos empresários e para países no Sul global (tanto dos países mais ricos quanto de instituições financeiras internacionais).

Os autores estão convencidos de que essa visão política levará a mais sustentabilidade, igualdade e sociedades diversas baseadas na solidariedade internacional e que podem prevenir e lidar melhor com choques e pandemias que virão.

Mesmo que possamos discordar com alguns pontos do caminho sugerido, o despertar da consciência para esse tipo de visão, mais humana e sustentável, é um desejável caminho sem volta.




Fontes:


Imagem: annca por Pixabay



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