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Desacelerando o tempo

Um dia desses, participei de uma discussão sobre a passagem do tempo.

Era unânime no grupo a percepção de que o tempo anda passando cada vez mais depressa.

Teorias brotaram das mentes inquietas, dedicadas ao jogo das hipóteses aleatórias, responsabilizando a aceleração do núcleo da Terra, a mudança da inclinação do eixo do planeta, o excesso de ondas eletromagnéticas gerado pelas telecomunicações, as alterações genéticas inerentes à evolução humana, a entrada na era de Aquário, o fim do calendário Maia e o início do apocalipse, entre outras possibilidades entusiasmantes.

No dia seguinte, como não havia sido convencido por nenhuma das teorias apresentadas, resolvi pesquisar o assunto.

Nesse tipo de assunto, costumo enfrentar a dificuldade de procurar afastar o viés da crença pessoal de que a realidade é uma construção mental individual, ainda que influenciada pelo inconsciente coletivo.

Em outras palavras, acredito que capturamos informações através de nossos dispositivos sensoriais e nossa mente forma algum sentido a partir da combinação dessas informações, e é isso que chamamos de realidade.

Para minha sorte, com a evolução da física quântica, minhas crenças já não parecem tão absurdas quanto pareciam há 40 anos.

De qualquer forma, estamos falando da percepção da passagem do tempo, mais do que do tempo em si que, pelo menos em tese, não se altera, porque tem como padrão o Sistema Internacional de Unidades que define um segundo como "a duração de 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio-133. E se o tal do césio-133 resolvesse mudar de comportamento de forma significativa, logo perceberíamos por que o Sol nasceria muito mais cedo ou mais tarde. E se a mudança afetasse não só o césio-133, mas todas as coisas do Universo, estaríamos incluídos nessa mudança e não seríamos capazes de perceber.

Logo, a percepção da aceleração do tempo tem grande possibilidade de ser um fenômeno psicológico, e foi isso que conduziu minha linha de investigação.

Encontrei duas explicações interessantes para esse fenômeno.

A primeira é que, na medida em que envelhecemos, cada ano que passa representa uma fração menor de nossa existência. Explicando, nosso primeiro ano de vida é 100% de nossa vida. O segundo corresponde a 50%. O terceiro, 33%. Dos 50 aos 51 incorporamos apenas mais 2% de tempo de vida. Isso gera a percepção de encurtamento dos anos e, portanto, de aceleração do tempo. Essa tese faz sentido, mas não é capaz de explicar por que as férias passam mais depressa do que os dias em que estamos ocupados com o trabalho e outros afazeres.

Encontrei, então, outra teoria que complementa a primeira. A ideia é que a percepção do tempo está associada à quantidade de novas informações que acumulamos no período.

Essa ideia ajuda, também, a explicar um paradoxo. Vocês já perceberam que quando não estamos fazendo nada (por exemplo, esperando para ser atendidos) o tempo parece demorar mais para passar do que quando estamos ocupados com alguma tarefa. Mas, por outro lado, quando passamos longos períodos de desocupação (como férias na praia), a sensação que temos ao final do período é que tudo passou muito depressa, embora cada dia tenha durado muito?

"Nossa memória otimiza o armazenamento de informações."

Isso acontece porque nossa memória simplifica o armazenamento de repetições. Quando um dia é muito parecido com o outro, sem fatos ou emoções novas e significativas, ele ocupa pouco espaço na memória. E nossa percepção do tempo passado é proporcional ao espaço de memória que os registros dos momentos que vivemos ocuparam em nosso cérebro.

Interessante essa tese. Dias monótonos parecem longos no presente, mas parecerão curtos no futuro, porque nada haverá para lembrarmos sobre esses dias.

E a que conclusão chegamos?

Bem, se você acha que o tempo está passando muito depressa, é porque está envelhecendo (todos estamos) e porque anda fazendo sempre as mesmas coisas todos os dias.

Para desacelerar o tempo, a solução é viver novas e emocionantes experiências, que ocuparão mais espaço em sua memória e deixarão a sensação de uma vida longa e interessante.

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