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A filosofia tântrica

Atualizado: 5 de abr. de 2020

O Tantra tem sua origem na região oriental do planeta e é normalmente referenciado como uma linha filosófica desenvolvida pelos Hindus. Os registros históricos são vagos mas existe razoável concordância de que "Tantra" era o nome dado a escrituras datadas de mais de 3.000 anos antes do início da era cristã. 

Essas escrituras apresentam um conjunto de princípios orientadores para o desenvolvimento pessoal e a convivência social, que norteiam ou influenciam praticamente todas as religiões orientais de hoje.

Os princípios da filosofia tântrica foram concebidos em uma época muito diferente da nossa, possivelmente em comunidades pacíficas (não guerreiras), naturalistas e matriarcais, que valorizavam os aspectos sensoriais da vida e eram pouco repressoras. Como não se trata de uma religião formal, não existem "autoridades" universalmente aceitas para definir o Tantra, estabelecer regras ou procedimentos. "Autoridade", na verdade, é uma palavra que não combina com a filosofia tântrica. Uma das possíveis explicações para a origem da palavra "tantra" (talvez a que mais se adéque aos conceitos dessa filosofia) é a combinação de duas expressões:

  •   "Tan", que significa algo como pensamento profundo ou expansão da consciência

  •   "Tra" que significa liberdade

A palavra "tantra" também poderia ser traduzida como trama ou tecido.

E como o Tantra é anárquico (sem autoridades formais responsáveis),  qualquer pessoa tem o direito de oferecer a sua versão sobre o tema, desde que respeite os princípios de expansão e liberdade, que são os fundamentos das escrituras originais.

Assim, poderíamos oferecer como definição que o Tantra é a trama que resulta da busca da  liberdade de ser e da expansão da consciência.

"Tantra é a trama que resulta da busca da  liberdade de ser e da expansão da consciência."
No ocidente

Alguns acadêmicos do mundo ocidental vem dedicando seu tempo a estudar, entender e definir o Tantra.

Não é uma tarefa fácil, principalmente quando consideramos seu caráter vivencial e sensorial, que limita sua compreensão meramente racional. 

O Tantra não se conhece lendo, assistindo palestras ou discutindo com especialistas e Gurus.  Precisa ser vivido. 

Por conta de sua natureza pouco repressora e do estímulo a vivências sensoriais que incluem rituais prazerosos, os primeiros acadêmicos (principalmente ingleses)  a discorrerem sobre o assunto, ainda no século XIX, descreviam o Tantra como um conjunto de rituais pagãos e primitivos, altamente sexualizados.

Naquele momento histórico, a Inglaterra era um país protestante e conservador, a sociedade de castas da Índia já havia sido fortemente "contaminada" pelo domínio inglês e o Tantra era "praticado" principalmente por sociedades "secretas" promotoras de encontros que, observados pelos "não iniciados", bem poderiam ser interpretados como orgias sexuais.  

Era praticamente impossível para um puritano acadêmico inglês, cuja educação se baseava em princípios como o sofrimento e a castidade como caminhos para elevar o espírito, reconhecer algo de positivo em "rituais" de prazer.

Daí nasce boa parte do preconceito que o mundo ocidental tem em relação às práticas tântricas.

Ocorre que, para os tântricos mais afeitos às liturgias, o prazer é um caminho "sagrado" para conexão com o "divino" (ou a energia que anima o Universo). 

Nesse contexto, o sexo, a nudez e o contato físico afetivo são tratados com muita naturalidade.  Para um tântrico, a ideia de fazer sacrifícios pessoais para evolução espiritual é tão estranha quanto os princípios tântricos parecem ser para um cristão.  O sofrimento eventual é recebido como parte da vida, e deve ser elaborado e superado com desapego, não recebendo nenhum mérito especial.

As práticas tântricas são, em essência, integradoras do ser.  Não separam a razão da emoção, o sentir do pensar, o corpo da alma. 

Todos os seres e objetos são considerados  manifestações de uma energia única que anima o Universo, pensamento bastante semelhante ao da Física Quântica dos tempos de hoje.

A academia inglesa do século XIX,  responsável pela proliferação do juízo negativo que o ocidente faz do Tantra, pensava de forma muito diferente. Um trecho de um artigo publicado no "The Indian World", em Julho de 1919, com o título "New Indian on Religion", tratando sobre o renascimento do Tantra (que voltava a ser praticado na Índia de maneira mais aberta), ilustra esse modo de pensar:


"The world is passing from faith to reason. The future is for reason. When reason is established the problem of the world will be easy of solution. Reason will stand no miracles, no humbug, no special incarnations or exclusive revelations. It will elbow out all creeds, and admit nothing which cannot be demonstrated to the intelligence. Forms of worship are excrescences of religion. Belief in the supernatural and transcendent is getting into a discount. The element of mistery once believed to be an inseparable factor of religion is disappearing" and so forth. " (The Indian World, July 1919)

Tradução: "O mundo está passando da fé para a razão.  O futuro é da razão.  Quando a razão é estabelecida o problema do mundo será de fácil solução.  A razão não irá oferecer milagres, embustes, encarnações especiais ou revelações exclusivas. Irá afastar todos os credos e não admitirá nada que não possa ser demonstrado para a inteligência.  Formas de adoração são excrescências da religião.  Acreditar no sobrenatural e transcendente é dar um desconto.  O elemento de mistério que antes se acreditava ser um fator inseparável da religião está desaparecendo, e assim por diante." (The Indian World, julho 1919)

Cem anos se passaram desde a publicação deste artigo e pouca coisa mudou, de fato, Ainda nos dedicamos a falsos paradoxos como fé x razão e acreditamos que vivências sensoriais prazerosas são manifestações de pecadores.

Mas a grande novidade de nossa era é que estamos destituindo as autoridades institucionais que definem o que é certo e o que é errado, e buscando outras formas de conhecimento.

Estamos despertando.

A filosofia tântrica não diz o que você deve fazer. Ela sugere o que você pode fazer.

A proposta da liberdade de ser é o caminho do auto-conhecimento e da aceitação, fundamentais para a transformação.

A expansão da consciência é a conexão com tudo o que nos cerca, a exploração do Universo sem limites e preconceitos.

E a trama integrativa, natural desse caminho, é a possibilidade de experimentar a sensação de plenitude e encontrar um sentido para a existência.

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